A gente já nasce com as despedidas impressas no corpo. Perdemos pedaços de pele, dentes da primeira infância, cabelos, viço, rigidez dos músculos, alguns orgãos.
Até que perdemos o outro!
Aquele que sempre amamos!
Morte brusca, veio sem aviso, não esbravejou, não rugiu, um despenhadeiro.
A falta agora anda pela casa, sobe nos móveis, rodopia na poeira, desliza em olhos de sereno.
O que fica? A estrada, a história. Essa vive infinitas vidas.
Ausência sim, perda não.
Não te perco em mim. Te recolho a cada dia. Sua lembrança vai me adoçar sempre, por dentro, devagar, como um coelho de pelúcia roçando macio a minha pele.
Na moldura da janela relembro a primeira vez, a última, a penúltima, e mais aquela outra, e outra, e outra, e outra, e outra, e outra, e outra...
Lídia Izecson
Setembro de 2020